Comentário: Marx, Mattick e as medidas administrativas, por Elcemir Paço Cunha
Parece existir limites para a administração da vida econômica da sociedade que, em geral, não podem ser inteiramente admitidos. É necessário convencer longas cadeias de grupos e classes sociais de que os problemas os quais, em última instância, ameaçam contínua e renovadamente a própria existência humana, decorrem de falhas administrativas dos métodos então empregados como corretivos das contradições internas à economia capitalista. Tais problemas jamais são apresentados como expressões dos pilares desse modo de produção.
Em 1844, no contexto da discussão sobre as medidas dos Estados Alemão, Francês e Inglês diante do pauperismo, Marx já havia notado o limite das formas de consciência que emanam de certas posições sociais. O entendimento que afirmava o pauperismo como problema consequente a falha administrativa, buscava a resposta sempre em “nova” medida administrativa, constituindo-se uma estrutura de administração daquele pauperismo.
Isso se aplica a outros tipos de problemas sociais, de maneira que:
(…) todos os Estados procuram a causa em deficiências acidentais intencionais da administração e, por isso, o remédio para os seus males em medidas administrativas. Por que? Exatamente porque a administração é a atividade organizadora do Estado.1
No tempo corrente, quando o ressurgimento dos apelos pela intervenção estatal parece sugerir que, até o momento, não havia atuação do Estado no sentido de administrar a economia capitalista, vale relembrar que os métodos empregados (keynesianos, monetaristas, supply-side, e suas combinações) possuem uma temporalidade prática que a história insiste em demonstrar.
Em 1969, Paul Mattick forneceu, nesse sentido, um testemunho qualificado em meio às suas pretensões analíticas do keynesianismo:
I have witnessed this period of “unprecedented prosperity,” I also experienced the Great Depression between the two world wars. At that time, confidence in the resilience of capitalism was at a low ebb and theories abounded regarding its decline and predicting its certain demise. Marxism was once again in the ascendancy, if only as an expression of a growing discrepancy between capitalist ideology and reality. The climate of despair was ended by government interventions in the economy and by World War II. Meanwhile, John Maynard Keynes had evolved his theory, which suggested monetary and fiscal policies capable of assuring full employment in a stagnating capitalist economy. Governments applied the Keynesian suggestions to secure some measure of social and economic stability in their nations. Because these endeavors proved successful, an old slogan was modified to proclaim that “we are all Keynesians now.”
It is my contention that the Keynesian solution to the economic problems that beset the capitalist world can be of only temporary avail, and that the conditions under which it can be effective are in the process of dissolution. For this reason the Marxian critique of political economy, far from having lost its pertinency, gains new relevance through its ability to comprehend and transcend both the “old” and the “new” economics.2
A busca por “novos” remédios administrativos como reação ao considerado “fracasso” das medidas “neoliberais” parece ser a reforma dos castelos construídos nas nuvens. A crítica da economia política segue, pois, pertinente.
Notas
1 https://www.marxists.org/portugues/marx/1844/08/07.htm
2 Mattick, P. (1969/1981). Marx and Keynes: the limits of the mixed economy. Porter Sargent Publisher. https://archive.org/details/marxkeynes0000unse
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